sábado, 10 de março de 2012

Academias, mensalidades e salários.

O preço de um produto ou serviço, quando aprendi na escola nas aulas sobre capitalismo, era elaborado com base numa fórmula simples. O custo de confecção ou desenvolvimento do serviço acrescido do valor do trabalho sobre ele e o lucro. Era uma fórmula simples e que explicava o preço auto de muitas coisas.
Um detalhe que era acrescido à fórmula era a procura e a oferta - quanto maior a oferta de um produto ou serviço, menor seria o preço dele, quanto maior a procura, maior o preço.
O salário de quem produz correspondia à sua produção e à qualidade do produto ou serviço.
No atual mercado falar em qualidade é hipocrisia. Se um produto tem qualidade ele resolve o problema (nos serviços) e é duradouro (nos bens) então não precisará ser reposto ou concertado tão cedo e o mercado sofrerá sem procura.
Como acreditar que o serviço foi bem feito se para se obter lucro num mercado sobrecarregado de impostos é preciso ou sonegar ou oferecer algo inferior ao prometido.
As academias estão se proliferando sob a máxima de que a saúde e a estética principalmente são fundamentais e que é necessariamente nas academias onde devem ser feitos os exercícios físicos. Ninguém se lembra que uma academia é um ótimo negócio para se lavar dinheiro ou se sonegar impostos.
A mão-de-obra que antes era regida pela sua qualidade agora, sob a política de acesso à universidade do governo está perdendo em capacidade, em habilidade e mesmo amor pela profissão.
São inúmeros os profissionais lançados anualmente no mercado se tornando mão-de-obra barata e desqualificada - é difícil formar um bom profissional que vem de uma escola que "passa de ano" e de uma cultura que valoriza o lucro.
Ademais, como concorrer enquanto profissional com os instrutores leigos que ainda persistem no mercado. É fato, os empresários estão contratando leigos ao invés de profissionais - inclusive muitos formados não se destacam em termos de conhecimento científico dos leigos.
As academias então pagam o mesmo valor que era praticado a cerca de 12 a 15 anos atrás e com a desculpa da concorrência e das despesas - mesmo elas fazendo parte de associações de academias (parece cartelização).
As máquinas não se renovam, a sala é suja, o ventilador desligado e o som é de baixa qualidade e de péssimo gosto e o professor continua dando cantada nas meninas bonitinhas com aquelas meias ridiculamente levantadas para seguir a moda novelística - sem dizer d'aquelas roupas que deixam a ponchete e dos abadás que provam sua participação numa micareta qualquer, mas o salário continua baixo.
Alguns alunos reclamam por pagar 30 a 40 reais numa academia e gastão muito mais com cachaça e os professores se esbufeteiam para receber aquelas migalhas oferecidas pelo dono.
As boas academias cobram do aluno e do personal - ganham dobrado sem oferecer nada a mais - e excedem no seu preço por não oferecer o que é de mais precioso, um serviço de qualidade técnica.
Não acho que esteja insultando os bons profissionais, esforçados, estudiosos, praticantes de suas modalidades, investigadores, críticos e criativos, mas uma geração de pessoas que aprendem receitas prontas e pagam caro para que os ensina estas receitas e se prestam a usar roupinhas bonitinhas para se enquadrarem nos moldes da academia e ficam disputando alunos de 'personal' com preços cada vez mais baixos e qualidade pior.
Enquanto o público dança o 'kuduro' a cultura do lucro assola as academias e os professores continuam como o Professor Raimundo já mostrava.
São professores dando gritinhos, tomando 'bomba' e se vestindo de palhaço para agradar a clientela. Ao mesmo tempo tem a eterna disputa dos leigos que nem deveriam estar no mercado - quanto menos se conhece algo mais se pensa saber sobre ele.
Não podemos nos esquecer dos aspectos legais trabalhísticos onde a falta de registro na Carteira de Trabalho, o registro com valor diferente do real, as negociatas nos momentos de necessidade do profissional se ausentar por licença, o não cumprimento das férias, a falta do seguro para os estagiários, a ausência de um profissional formado e devidamente registrado supervisionando o trabalho de estagiários, a falta de registro dos professores e da própria academia no conselho de classe, o não pagamento de direitos nos casos de demissões, carga horária exagerada e condição de trabalho péssimas com o risco de perda auditiva, de acidentes e de lesões por esforço repetitivo, não há seguro contra acidentes nas instituições para os clientes e o risco recai sobre o professor de pagar 'o pato' pelo ocorrido etc. É muita coisa a que o professor se submete em troca de umas 'moedinhas'. E o cliente que fica esquecido numa condição de insalubridade com máquinas de "fundo de quintal".
Faço um apelo às faculdades de Educação Física, cobrem conhecimento técnico de seus formandos, permita uma prática exaustiva de aprendizagem, estimulem o ceticismo e a crítica com base científica, estimulem a reflexão sobre a própria profissão e ensinem os indivíduos a pesquisarem.
Profissão se faz com conhecimento de causa e com bases em métodos científicos enquanto que ofícios se baseiam apenas em vivências práticas e ditos populares.

Por Flávio França

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