sexta-feira, 22 de julho de 2011

Academia do Idoso?

Estamos vendo, a cada dia, mais uma "academia do idoso" sendo implantada pelas pracinhas. É muito bom ver que nossos governantes já penssam na prevenção como elemento de saúde populacional, mas, infelizmente tenho algumas preocupações.
A "academia do idoso" são equelas parafernalhas para se sentar e levantar, rodar com o braço, simular o andar, simular escadas, cavalinho etc.
Primeiramente não consigo localizar um acervo de pesquisas bem conduzidas que mostrem os benefícios deste tipo de academia. São apresentados resultados que são semelhantes aos resultados obtidos com uma simples caminhada e alguns alongamentos o que não justifica um investimento maior. Neste aspecto seria mais barato para os cofres públicos um programa de exercícios conduzidos por um profissional de Educação Física onde viabiliza-se atividades nos diversos aspectos da motricidade.
Segundo que a maior necessidade do idoso é a melhoria da sua força e mobilidade articular e, neste sentido as atividades devem propiciar uma carga de trabalho de no mínimo 50% da capacidade máxima do indivíduo e ali não se chega nem perto disso.
Atividades mais leves são interessantes na melhoria da coordenação, equilíbrio, resistência, mas as pesquisas indicam que a melhoria da força muscular reduz efetivamente o risco de queda que é um elemento preocupante.
Em terceiro lugar temos o aspecto de delegar o exercício físico direcionado ao idoso a pessoas incapazes, curiosos, ou mesmo sem ninguém acompanhando. Faz-se necessário a presença de profissionais que prescrevam, acompanhem e sejam capacitadas e equipadas com o necessário para a prestação de socorro.
Tratar com terceira idade é tratar com um grupo de indivíduos que merecem respeito e nunca serem alvo de politicagens.
É preciso pesquisa séria, que reflita ganhos específicos com aqueles equipamentos, é imprescindível uma carga de trabalho que promova o desenvolvimento físico real e a garantia da ação de profissionais capacitados e de estrutura adequada que garanta o socorro imediato caso seja necessário.
Em outro momento tentarei discutir os exercícios para este público que é realmente especial, mas não pelos problemas, mas pelo carinho especial que eles têm por quem os respeita.

Por Flávio França

domingo, 17 de julho de 2011

Onde o Forró de Plástico não tem vez...Outro São João é possível.

Ainda não havia postado nadinha sobre minha passagem por Bananeiras, cidade do brejo paraibano, distante 130 km de João Pessoa, onde pude testemunhar que (parafraseando a célebre frase do Fórum Social Mundial) "Outro São João É Possível"...baixada a fumaça das fogueiras e desaparecidos os fogos nos céus, eis que que posso dizer que foi uma agradável surpresa ver uma cidade mobilizada em festejos juninos, cuja trilha sonora não é o chamado "forró de plástico" (ou "forró pela metade", como denomina meu querido Djalma Mota, de Caicó)
É a materialização do conceito que Chico César ("Mama Áfricaaaa...a minha mããe é mãe solteiraaaa"), atual Secretário de Cultura da Paraíba tornou público antes das festividades e que causou furor em muita gente.
Chico afirmou que não liberaria dinheiro público àqueles municípios cuja programação das festividades juninas contivessem artistas que não fossem do chamado "forró de raiz" ou "forró pé de serra". Por trás (ou pela frente, como queiram) da decisão, uma compreensão clara de que o Poder Público deve ter "critério" e "conceito" em suas decisões e que se isso vale em qualquer área das políticas públicas, deve valer, também, para os recursos que são despejados na seara cultural.
Muitos protestaram, mas os argumentos dele são consistentes. Ele deixou claro que o poder público não poderia entrar no chamado esquema do jabá, uma prática pela qual artistas e gravadoras poderosas compram (de maneira pouco transparente) espaço em rádios e TV (que são concessões públicas), monopolizando, assim, a grade de programação. Segundo ele, e é verdade, "a maioria dos meios de comunicação está atrelada a majors (grandes gravadoras como a EMI e Som Livre), restando um espaço desproporcional ou ínfimo para o que é produzido fora desta indústria. (Folha 13)
Além disso, ele aponta a dicotomia entre o mercado e a herança não-material, e que se deveria focar os recursos públicos na segunda durante o São João. “Os dois são legítimos, e eu faço parte do mercado, mas essas bandas não precisam de apoio do Estado para sobreviverem, como acontece com as bandas históricas de forró. Nosso trabalho é dar visibilidade a quem não tem mercado”.(Entrevista G1)
As distorções pela presença maciça desse modelo são claras e alimentam a marginalização de outras propostas estéticas pelo simples fato de não terem circulação. Sobre isso ele ilustra: "Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava "Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".(Teia de notícias)
Essa ideia não é nova, nem ele é pioneiro. Ariano Suassuna, quando Secretário de Cultura de Pernambuco fez o mesmo e muitos reclamaram, inclusive artistas respeitáveis. Mas o fato é que num contexto em que se pensa que o que foi aceito pelo mercado o foi porque é bom ou que o Estado deve financiar um arbitrário e ambíguo "gosto médio", para parecer democrático, o gestor público de cultura precisa, sim, discernir de maneira clara o papel do Estado no sentido da valorização da DIVERSIDADE CULTURAL e ser um mecanismo de afirmação disso.
Assim, me deliciei em ver as pessoas entoando deliciosamente as aventuras de Pedro Caroço de olho na Butique de Severina Xique-Xique, do mesmo jeito que presenciei (e me arrepiei) anos atrás 2.500 jovens (urbanos) recitando "Ai Se Sêsse", do também paraibano Zé da Luz, acompanhando Lirinha do Cordel do Fogo Encantado...

Ainda sobre o "Forró de Plástico"...artigo de José Telles

Ainda pensando sobre a postagem referente à minha passagem por Bananeiras, reproduzo abaixo um artigo do jornalista pernambucano José Telles, sobre o estilo de forró banido de Bananeiras, de Caruaru e outras cidades com festejos juninos. O artigo é de maio de 2008.

"TEM RAPARIGA AÍ?

"Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!" A maioria, as moças, levanta a mão.
Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas as bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade. O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhado uma música da banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto.
Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de 'forró', e Ariano exclamou: 'Eita que é pior do que eu pensava'. Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou. Para uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas. Porém o culpado desta 'desculhambação' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo.
O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shorts começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado, Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo. Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em polpa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção
Quando o vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo) e o refrão é 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

JC On Line, 7 de maio de 2008.

sábado, 9 de julho de 2011

Princípios do Estudo e da Aprendizagem


Estudar seria um processo para a aprendizagem? Se sim, então como estudar para poder aprender mais? Aprender mais, ou melhor?
Estamos acostumados com o “saber cada vez mais”, mas será que é isso o que importa para executarmos as tarefas necessárias de nossa vida... apenas saber cada vez mais?
O que é o saber senão ter a capacidade de executar com resultados satisfatórios, e esse satisfatório como aquilo que é o suficiente para suprir uma necessidade. Temos daí um primeiro elemento, do que é necessário e do que é suficiente. De nada adianta extrapolar o suficiente, mas devemos ter domínio do que é necessário e este, eu vejo como o princípio da aprendizagem.
O que é necessário para nossa vida vai determinar o que devemos aprender e o quanto, será determinado pelo que é suficiente, mas daí decorre o primeiro problema da aprendizagem, o desejo de aprender.
Focar a vontade de aprender é definir as causas que levam um indivíduo a estudar e posse limitar este amplo espectro em dois pontos:
a)      Elementos que trazem reforço imediato do desejo pelo estudo e
b)      Elementos que trazem reforço a longo prazo pelo desejo de aprender.
Temos uma característica herdada pela busca de elementos que nos dê prazer, satisfação e isso é um comportamento que beneficia àqueles que, em decorrência da satisfação de seu desejo, lhes dê uma vantagem evolutiva, no passado, que lhes garanta a sobrevivência.
Partindo desse pressuposto questiono, o que leva ao desejo de aprender? Tanto satisfazer um anseio pessoal como satisfazer uma necessidade social. Precisamos garantir sucesso para as nossas necessidades e para as necessidades da sociedade, só isso nos faria sobreviver, ou melhor dizendo, no mundo atual, viver e conviver.
Para melhor esclarecer vou nomear a satisfação imediata e pessoal como ‘curiosidade’ e a satisfação a longo prazo e social como ‘educação formal’. Só aprendemos pelo meio da curiosidade (investigação pessoal composta pela relação entre pessoa que aprende e objeto de estudo) ou pela educação formal (seja ela na escola ou qualquer outra forma de ensino que tenha a tríade pessoa que ensina, pessoa que aprende, objeto da aprendizagem).
No processo da curiosidade não temos, obrigatoriamente, alguém que ensine, mas temos um objeto de estudo que motiva ao aprendente, que lhe trás satisfação imediata de uma necessidade enquanto que, na educação formal, temos um objetivo a longo prazo e a satisfação de necessidades para a inserção no contexto social, aprender a fazer algo que será necessário. Uma é presente e a outra é uma linha relacional entre presente e futuro.
Sendo assim, por que tanta reclamação sobre o fato de acharmos que os alunos estão aprendendo cada vez menos? É simples, eles estão sendo obrigados a aprender cada vez mais coisas que cada vez mais são menos interessantes, estão cada vez mais distantes do presente, são sempre para quando eles precisarem um dia.
Reflitamos sobre o que os alunos sabem fazer: são danças, esportes, desenhos, músicas, novas mídias, linguagens, esportes, notícias de inúmeras áreas de interesse, todo um mundo do que lhe trás satisfação imediata, que satisfaça a sua curiosidade.
O problema já recai sobre o que a escola ensina coisas que ele vai precisar um dia, pelo menos na promessa dos professores e, na verdade só quem cobra algo que foi ensinado a anos atrás é o próprio professor pois ele terá de aprender coisas novas na carreira que o aluno escolher e, mesmo, na vida que agora tem. Ninguém é capaz de prever o que será necessário para todos os alunos de uma turma, muito menos para todos os alunos de uma série, escola ou país.
Esse é um discurso para convencer o aluno a estudar e é tão repressor quanto à afirmação de que deve-se estudar para passar de ano. Se o estudo for para sanar necessidades reais e imediatas, eles serão vistos como necessários. Se forem para sanar necessidades futuras, serão considerados chatos e enfadonhos.
Não estou dizendo que não devemos ter, no currículo escolar, objetos de estudo com perspectiva de uso futuro, mas que todas as disciplinas são focadas nesse mesmo contexto e por isso os alunos não conseguem perceber sua importância.
Infelizmente, para o aluno, nada mudará, pois a maior parte dos professores que lerem um texto como este vão ou reconhecê-lo como verdadeiro e continuarem sua prática imediatista de satisfazer sua necessidade de cumprir um currículo pré-estabelecido dando inúmeras desculpas ou negarão sua veracidade afirmando que quem o escreveu não é um “doutor” no assunto e que têm longos anos de experiência em sua ‘mesmice educacional’.
Sobra para o aluno a tosca tarefa de ‘estudar pra prova’ e é neste ponto que quero centralizar minha crônica. Como estudar para aprender e não só decorar o que vai cair na prova?
Primeiramente reconheça que ‘tirar nota boa’ não significa saber, dominar um assunto.
Satisfeita esta premissa reconheça que você sabe muito e que se têm dúvidas, este é um ótimo sinal... significa que está iniciando-se o fantástico processo da curiosidade que fez surgir desde a roda e o domínio do fogo ao microondas e as viagens espaciais.
È importante também considerarmos o quesito “atenção” que se constitui em premissa para a compreensão.
È interessante como não percebemos inúmeros detalhes do cotidiano, e este procedimento é fundamental. Devemos sim, destacar os elementos merecedores de nossa atenção ou não conseguiríamos compreender os fenômenos a nossa volta. Temos uma tendência a pensar analiticamente. O problema reside em como direcionar nossa atenção.
Observa-se que quando temos uma ‘figura fundo’ ou seja, algum elemento que está presente, sutilmente e que acabamos por não percebê-lo mais, que não é o foco de nossa atenção, conseguimos destacar melhor o objeto principal. Por exemplo, quando temos um ruído como um ventilador ao dormir, uma TV ligada enquanto fazemos alguma tarefa ou a velha musiquinha enquanto estudamos.
Parece que a ‘figura fundo’ acaba por dar um destaque ao objeto principal além de, aleatoriamente, desviar nossa atenção deste mesmo objeto. Este processo de atenção-desatenção acaba por permitir um foco direcionado para o objeto e, ao mesmo tempo, um desvio dele fazendo com que o cérebro relaxe e possibilite uma atenção ampliada em um segundo momento reduzindo o estresse geral.
Destaco também a estrutura tradicional de uma aula quando o professor copia a matéria no quadro, explica-a com uma sequência ‘lógica’, do mais fácil para o mais difícil, ou seguindo uma cronologia horizontal, sempre em ‘ordem crescente’, em seguida faz uns exercícios e passa outros tantos para reforçar o que se viu. Daí ele passa o dever de casa avisando que dará o visto no caderno e que algumas daquelas questões poderão cair na prova bem parecidas. Também passa um trabalho em grupo para pesquisar algo que não deu tempo de ver em sala ou que complete aquele assunto. Parece um verdadeiro quebra-cabeças.
Esse professor é do tipo que não vai mudar e o aluno tem de saber se adaptar. Esse é o pior tipo de aula para quem tem dificuldade com a matéria em questão e acho que poderíamos economizar muito tempo.
Primeiramente, após copiar o que ele mandou, durante a explicação vá anotando pequenos trechos que julgue importantes da fala dele. Faça figuras e esquemas explicativos, aqueles que só você entende e colocando suas dúvidas em destaque, grifadas ou de outra cor.
Não faça este esquema organizado e bonitinho, todo coloridozinho. Faça-o aleatório, bagunçado como a forma em que pensamos. Quando chegar em casa, pegue este resumo e tente refazê-lo, mas agora organizado, bem preparado, só não precisa enfeitar. Quando terminar compare com o texto que ele escreveu ou com o livro didático e localize os pontos em comum e os distorcidos, estes que se mostraram diferentes, destaque e procure noutra fonte – podem ser outros livros, internet, outros professores etc.
Tente fazer os exercícios e não deixe pra corrigi-los só depois de terminar todos. Tente ver o gabarito após cada um para que encontre logo o que você está errando e o por quê. Repetir um erro muitas vezes é reforçá-lo.
Se tiver trabalho de pesquisa, procure-o nas suas fontes e leia os textos originais copiando as partes mais importantes num rascunho e à mão ou digitando-os. Não use o Ctrl+C e o Ctrl+V. As pessoas querem fazer logo o trabalho e acabam não sabendo o que pesquisaram. Após copiar preencha o texto com frases de ligação entre os trechos para dar-lhe um sentido global. Releia todo, corrigindo os erros e nunca deixe de ver todo o trabalho grifando as partes importantes novamente e corrigindo o que for necessário. Se o trabalho foi dividido em partes para cada aluno, faça a revisão dele todo e grife suas dúvidas. Junte o grupo e esclareça suas dúvidas com os demais integrantes.
Você pode pensar que isto dará muito trabalho e, na verdade, você está fazendo um trabalho. O motivo de muitos não saberem detalhes sobre os assuntos dados em sala é o pensamento dominante de que devemos fazer logo para entregar e se livrar do trabalho. Fazer a tarefa de última hora é ruim, não dará tempo para todo esse processo, bem como entregá-lo logo também, pois não permite relê-lo e analisá-lo o quanto for possível.
No dia da famosa prova você não conseguirá se manter tranqüilo enquanto não se sentir confiante. O que faz você ter calma é sua consciência sobre seu domínio do assunto. Quem sabe não teme. Pior ainda é ficar correndo atrás de cola e gabaritos de outras salas. Além de desonesto consigo é uma forma de fugir de uma punição para seu desleixo nos estudos.
Quando não souber, é preferível uma punição que o mérito de acertar sem saber. Não estou falando em termos de moralidade e ética, mas de reforço do comportamento. Se você se premia (com uma boa nota advinda de cola) nunca precisará mudar e seus esforços por tentar estudar mais serão em vão.
Se tiver notas baixas e todos brigarem ou zombarem de você não pense que eles estão tentando lhe ajudar. Na verdade estão querendo parecer melhores que você e nem fique arrumando desculpas como não teve tempo para estudar, ficou doente, tava cansado, não conseguiu se controlar etc. Quem muitas desculpas tem, mais culpa carrega.
Seus pais devem lhe cobrar resultados e dizendo – essa é sua única obrigação, você só vive pra estudar, não faz outra coisa e não consegue nem tirar nota boa entre outras inúmeras expressões. Eles estão tentando fazer que você se esforce, apesar da forma equivocada. Saiba que nós não viemos ao mundo para estudar, mas para viver. O estudo é uma parte boa e importante, mas não é tudo... você já nasceu ‘gente’. Às vezes, quem muito estuda, deixa de perceber muitas coisas boas e prazerosas da vida.
A maior desculpa que encontro é ter na preguiça a detentora do poder sobre sua pessoa. Preguiça nada mais é do que uma desculpa para a incompetência. Estar cansado sim, este é um bom motivo para parar e descansar.
Se você se vê estressado por não estar sabendo responder as questões apesar de ter passado horas estudando você deverá encarar isso como um aviso que está estudando errado ou que o professor está cobrando acima do que ele permite em sua prática pedagógica, em parcas palavras... ‘tá cobrando mais do que ensina’.
A segunda situação necessita da interferência junto ao professor, se ele não reconhecer o erro, nada mudará e, para isso, você terá que argumentar muito bem para derrubar a barreira de ‘pseudosabedoria’ e de ‘larga experiência’ dele. Se você conseguir, eu garanto que não merecerás nota baixa em português, nem em filosofia ou sociologia.
Se for o primeiro caso, terá que reestruturar seus procedimentos de estudo, e aí vão alguns conselhos:
1-      Se você não gosta de uma determinada matéria, se não for a sua praia, não a encare como sacal, chata e desnecessária. Se você olha pro teu inimigo com medo ou raiva, você o vê maior do que ele realmente o é.
2-      Se você não domina bem uma matéria, mesmo gostando dela, já sabe que ela é seu ponto fraco. Comece seus estudos por ela. Fortaleça suas fraquezas para ser forte como um todo.
3-      Não encare uma simples leitura como estudo. Ler é um ato de se informar, o conhecimento verdadeiro precisa ainda passar pelo processamento mental, precisa de provação por meio de problematizações.
4-      Não espere a aula para estudar depois. Estude antes e leve suas dúvidas para a aula. Se antecipe ao seu inimigo, preveja seus passos e elabore estratégias.
5-      Resolver muitos problemas iguais é como tentar comer de barriga cheia. Note que, mesmo cheio sempre cabe uma sobremesa e um golinho a mais, ou seja, repetir a mesma coisa não trás a perfeição, mas a monotonia.
6-      Nosso cérebro não é organizado, tudo empacotado e locado em prateleiras nomeadas. Nosso pensamento é um processo caótico, com uma aleatoriedade fantástica e ficar tentando dar uma ordem para o que se aprende é, muitas vezes desmotivante e não criativo. Alimente seu cérebro com flashes de saber, coloque pitadas de tempero para que ele deseje cada vez mais. Note como é uma festa que você ache divertida, cheia de pequenos detalhes que lhe chamam a atenção e que você nunca mais os esquecerá.
7-      Compreenda que mente e corpo são um só, indissociáveis. A aprendizagem se dá com o corpo. Quando for ler, fale, encene, escreva, releia, adiante a leitura, pare de ler e focalize algo diferente, discuta com alguém sua leitura, veja um filme sobre o assunto, escute uma música que lhe faça sentir o tema da leitura (recomendo música de boa qualidade técnica, que desafie o cérebro e não que reforce a mediocridade), dê significado à leitura que estiver fazendo, se emocione.
8-      Não focalize suas energias em futilidades. Seus colegas que tanto desejam tirar sua atenção com conversinhas bobas não sabem estudar e apenas estão querendo algo que lhes satisfaça o desejo imediato de desviar a própria atenção. É um processo natural que formação social, mas que vai atrapalhar você. Não seja rude, mas desvie a atenção dele da conversa para o estudo. Talvez um dia as pessoas reconheçam que isso é bom.
9-      Não tenha em mente suas notas ou seus pais cobrando resultados. Focalize a sua evolução, seu objetivos profissionais, seu futuro mesmo que duvidoso e, o mais importante, focalize sua curiosidade.
10-   Os pensamentos reforçam os hábitos. Procure ter uma vida simples, saudável e mantenha seus pensamentos elevados para continuar com bons hábitos.
11-   Não se contente com uma explicação sobre o assunto. Veja outras opiniões, procure outros autores, fale com outros professores, conteste, investigue, crie seus próprios experimentos. Desenvolva um senso crítico baseado em fatos e evidências e julgados à luz da reflexão profunda.
12-   Caminhe, corra, ande de bicicleta, pesque, cozinhe, tenha algum hobbie, algo em que você possa direcionar a sua intenção e fazer seu corpo aperfeiçoar-se. Aproveite este momento para uma reflexão, deixe sua mente passear nos pensamentos, faça uma ‘higiene mental’. Faça alguma coisa altruísta, alimente sua alma, sua essência.
13-   Veja com está seu estado de saúde. Muitos resultados ruins na escola estão relacionados a deficiências nutricionais, doenças metabólicas, verminoses e outros inúmeros problemas de saúde.
14-   Não deixe as dúvidas para depois. Se não puder ‘tirar’ na hora, anote e pesquise logo que possível. Aproveite esta ‘janela’ da curiosidade.
15-   Nunca estuda mais do que 2h seguidas. Dê um intervalo, descanse e retome o estudo.
16-   Não estude com a geladeira farta. Ao invés de aprender você vai é engordar. Quando temo fácil acesso aos maus alimentos não conseguimos controlar o impulso de devorá-los.
17-   Estudo em grupo muitas vezes é apenas pretexto para outras coisas. Escolha bem com quem você vai estudar, procure pessoas desafiadoras e curiosas.
18-   Não existem matérias de decorar ou de ler e matérias de estudar ou de lógica. Todos os saberes humanos têm uma lógica própria e exigem a memorização de elementos próprios. Eles não se relacionam. Não se aprende a nadar correndo nem a voar pulando de um penhasco. Você precisa das estruturas próprias para realizar o que é preciso.
19-   Em casa, comece os estudos fazendo as tarefas do dia, não deixe para depois. Reforce suas dúvidas de cada matéria. Após estudar o que houve no dia, pegue o material das matérias do dia seguinte estudando o assunto antes da aula com leitura e tentando fazer alguns exercícios. Provavelmente você já deixará feito muitos exercícios que serão pedidos pelo professor e assim ganhará um tempo enorme.
20-   O tempo que você tiver de sobra, estude as matérias que tem deficiência, mas cuidado, não queira trabalhar mais do que 2 ou 3 matérias. Sugiro apenas uma.
21-   Não vejo necessidade de estudar mais do que 4h em casa. O resto do tempo, vá viver. Na verdade, o estudo deveria ser todo na escola e, em casa, apenas um reforço sobre os pontos de deficiência. Se você precisa de tanto tempo ou mais em casa quanto tem na escola para estudar é um bom indicativo de que a aula não está ensinando nada
22-   Não adianta estudar sem ‘vontade’, com ‘preguiça’. Você estará tentando se enganar. Dê um tempo e tente retomar. Se não der não pense em deixar para depois. Mude para uma matéria que sinta mais prazer, pois se desistir uma vez, a probabilidade de sempre desistir é grande e não vale o risco.
23-   Estimule os seus sentidos e uma boa forma são as artes e os esportes. Isso aguçará a sua mente e o deixará mais alerta e conseguirá perceber melhor os elementos de um contexto.
24-   Brinque e sorria. Desabafe e se apaixone. Tenha sentimentos, viva, mas não se recolha num sentimento introspectivo e deprimente.
25-   Nem tudo tem uma explicação satisfatória. Aprenda a conviver com as incertezas.
26-   Saber deve ser sinônimo de fazer, a fazer direito. De nada adianta um aviador que sabe decolar, voar e não sabe pousar. Ele pode até ter uma nota acima da média, mas eu não voaria com ele.
27-   Tente entender o espírito criativo dos ‘grandes gênios’. Eles não foram geniais, mas pessoas normais que eram curiosas e criativas e isso você também tem, só precisa alimentar. Infelizmente tem professores e colegas que tentam matar sua curiosidade e criatividade.
28-   Talvez você tenha dificuldade com a forma que é ensinada a matéria – verbalizada e descontextualizada, baseada na quantidade de informações. Esta é uma característica de uma educação em larga escala, para produzir ‘seres pensantes’ que deverão ser ‘alguém na vida’. Não se aperreie. Siga as orientações aqui tratadas.
29-   Antes de uma prova, o máximo que se pode fazer é revisar as informações para confirmá-las ou esclarecer algo que não deu tempo de ver – o que é difícil de acontecer se você estudar direito. Sugiro fazer um pequeno resumo, enquanto estuda que não servirá para ler antes da prova nem para ‘colar’, mas porque memorizamos melhor quando escrevemos enquanto lemos. Vale inclusive fazer leitura em voz alta.
30-   Cuidado, pois a maioria dos itens tratados serão postos de lado. Nós temos uma excelente capacidade de esquecer o que não se usa e isso é bom. Então se você esqueceu um assunto é porque você não está mais precisando dele. Uma boa estratégia de conservar o ‘rastro’ para localizar as informações no cérebro é sempre tentar pô-las à prova. Sempre que tiver uma situação problema tente resolver. Lembre-se que tudo o que vemos na escola está presente no cotidiano, basta que você tente solucionar o problema supremo de todo estudante... o de como aplicar o que aprendeu.
31-   Se você lê o livro didático e não consegue entender nada é um indicativo que seus anos anteriores foram ridículos e você não sabe nem ler, é um analfabeto funcional. Se este texto parece ser muito extenso e complexo é um sinal da falta de leitura que você tem. Livro debaixo do braço não serve.
32-   Não perca seu tempo lendo revistinhas que, a cada edição, trazem a mesma coisa de forma diferente, não passam por uma revisão técnica e trazem fofocas e crendices. Busque uma literatura prazerosa e de boa qualidade. Temos gibis que são bem melhores que muitos livros por aí.
33-   Não use dicionário, nem de português nem de outras línguas, salvo em casos extremos. Tente compreender as palavras baseando-se no seu contexto.
34-   Não sou a favor da linguagem escrita e oral feitas de qualquer jeito. Os erros gramaticais, a falta de sentido nas orações, a dificuldade de compreensão de um texto são advindos da falta de uso de todo o nosso potencial lingüístico. Erros são aceitáveis, desde que não venham da pura simplificação para facilitar. Quanto mais facilitamos as coisas, mais retardamos o processo de pensamento. Pode-se até ‘absorver’ a informação, mas carecerá de estratégias de utilização destas informações.
35-   Tenha em mente que estudar não é comprar pacotes de conhecimentos, mas desenvolver estratégias de pensamento e compreensão dos princípios geradores dos fenômenos. Procure responder as seguintes questões quando estiver estudando algo:
a.       O que estou estudando?
b.      Como estou estudando?
c.       Por que estou estudando?
36-   Com relação à matéria de estudo reflita e se avalie usando os seguintes critérios:
a.       Eu entendi o que estudei?
b.      Eu sei aplicar ou fazer o que estudei e em diversas situações?
c.       Eu sou capaz de criar algo novo a partir do que aprendi?
37-   Quando for fazer uma prova, faça-a com organização e maestria, tendo a consciência de que você já domina o assunto. Não se dê desculpas como – eu esqueci disso. Esquecimento é sinal de falta de prática e displicência. Quem treina bem não se sente duvidoso quanto ao seu potencial. A escola não é uma disputa de quem tira as melhores notas, mas um espaço para a democratização do conhecimento.
38-   Melhore sua letra. Torne-a legível a todos. Não acredite nessa balela de que basta escrever. Melhore sua dicção, treine-a. Aprenda a discutir com base em fatos e argumentos.
39-   Leia o mundo a sua volta. Converse com as pessoas. Se envolva com quem conhece a vida mais que você, valorize as pessoas.
40-   Cuide bem de si, das pessoas e das coisas a sua volta. Valorize as suas conquistas. Nunca despreze ou desrespeite as coisas, por menor que elas sejam. Às vezes a insignificância de algo nos faz deixar de percebê-lo e perder um momento de sabedoria. Valorize cada momento de sua vida como se fosse o último, mas não desperdice suas possibilidades para o futuro com o discurso de ‘viver a vida adoidado’.
Espero ter contribuído para seus estudos, mas infelizmente não poderei mudar seu comportamento. Apenas você tem esse poder.
Em breve trarei novas idéias.
Por Flávio França