segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Relação causa e efeito.


O grande público, claro que derivado de todo um processo de evolução científica, conserva uma postura paradoxal extremista em relação aos fatos e fenômenos deturpando sua realidade de forma a satisfazer suas necessidades individuais de sentido.
É fácil encontrar pessoas que digam – há, tudo é relativo, depende da situação – e ao mesmo tempo dizendo afirmações do tipo – faça assim que o resultado dá nisso.
Infelizmente a indústria do comércio percebeu este ponto fraco e utiliza-se de subterfúgios espetaculares de venda baseados nesta premissa.
Se por um lado o produto for ser vendido ele vem com o conceito de que se for feito ou usado, vai dar certo independente de qualquer coisa. Se não der certo se deve à funcionar diferentemente em cada caso e a culpa se deve a você.
No que diz respeito aos exercícios, aos equipamentos, aos suplementos e às dietas é notório o uso deste argumento. Num dia o professor ou o nutricionista ou mesmo o vendedor do produto afirma que ele é eficiente, mas quando não está dando certo eles culpam a sua genética que não é boa ou que cada um é diferente e as coisas funcionam de forma diferente.
Curiosamente não sabia que nosso código genético seria tão diferente. Devido a apenas 1% somos bem diferentes dos chipanzés então pra pertencermos à mesma espécie e termos tanta diferença genética divergimos em quantos por cento de pessoa pra pessoa?
Não quero abordar diferenciação gênica, mas a psicologia comportamental do cliente consumidor.
Não temos produtos, exercícios, máquinas e procedimentos que em se usados ou feitos vão dar respostas exatas.
Também nem tudo pode ser relativizado segundo os desejos de cada um.
A relação causa e efeito tem uma linha tênue que os une, que pode ser modelada segundo diversos fatores. Então o relativismo existe, mas não como desculpa para o que não deu certo.
Não é possível afirmar que fazendo certa coisa vai dar determinado resultado, mas, ao mesmo tempo, não dá pra dizer que cada um responde diferentemente a cada situação proposta. Existem modelos gerais de respostas esperadas para cada situação, mas nem todo modelo é invulnerável em si.
Não existe exatidão científica ou fatos e fenômenos comprovados como verdades absolutas, mas tendências de comportamento frente a uma realidade, causa e efeito assumem uma relação dialética com o mundo.

sábado, 3 de agosto de 2013

Moda maromba.

Agora todo mundo é 'hardcore', tá malhado e posta porra de fotinhas com posições esdrúxulas, biquinhos e tanquinhos à mostra. 'Cumbuqhinhas' com refeições fitness e segredos de exercícios que não sei de onde tiram.
Dois 'scoops' de whey após o treino com 2 BCAA's antes e 2 após e o cara tá achando que tá dando resultado. Passam fome com brócolis e peito de frango e acham que tão numa dieta séria.
Tem oráculos milagrosos e profetas demais que mostram seus parcos conhecimentos e
ganham dinheiro à toa.
Especialistas que decoram nomes bonitos lidos numa revista qualquer se dizendo o santo graal da maromba. Até gente experiente por demais já com 10 aninhos ou mais de treino (que piada).
Profissionais formados na base da cola e trabalhinho em grupo que não tem ideia do que é uma literatura indexada e atletas de plantão usufruindo dos títulos farmacologicamente conquistados e impregnando as mentes dos clientes com receitas que eles dizem não trazer danos.
Tá chato o universo do culturismo. Precisamos mudar e sair deste modismo barato que só prejudica os profissionais e atletas sérios ou mesmo os esportistas verdadeiros que desejam melhorar sua condição física, sua estética, atingir um grande objetivo e permanecer com sua saúde.
É uma saraivada de máquinas de 'fundo-de-quintal', de suplementos batizados e drogas mascaradas que só podemos esperar por uma nova época, um novo paradigma - o da aversão ao culturismo.
Se hoje vivemos o modismo do corpo sarado e bombado e recriminamos os magrelos e gordinhos, amanhã será o contrário pois isso já aconteceu com o estereótipo de beleza que tínhamos na idade média e moderna.
Falo essas duras palavras por gostar do culturismo, ser um profissional formado e credenciado e ter experiência de treino e convivência.
Infelizmente aqueles que não têm responsabilidades social desprezam algum destes elementos e desvirtuam o esporte tentando atirar pedras nos que tentam trabalhar em conformidade com a legislação e a ética profissional.
Caro consumidor, exija seus direitos. Não seja iludido na aquisição do seu produto ou serviço, investigue e processe quando cabível inclusive se sentir-se lesado por imprudência, imperícia ou negligência, pelo exercício ilegal da profissão e pela comercialização ilegal de produtos ilícitos, vencidos, adulterados e falsificados.
O campo da musculação está sujeito a se tornar um deserto, um lugar de poeira e solidão.
Muitos devem descordar do que estou dizendo... talvez o pior cego seja o que não quer ver. (Flávio)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Intervalo entre séries de musculação.

Por diversas vezes me perguntam de quanto deve ser o intervalo entre as séries de musculação e isso, infelizmente, é mais um elemento que é mitificado por sabichões do treinamento.
Primeiramente temos aquelas antigas tabelas de zona de intensidade relacionadas às repetições e o seu devido intervalo. Essa é de força, aquela de hipertrofia e a outra de RML. Mero engano de quem as segue cegamente pois a interpretação de pesquisas deve considerar fatores externos à metodologia investigada.
Primeiramente não vou falar de outro assunto senão o trabalho de hipertrofia pois esse é o objetivo da musculação em academias e do fisiculturismo.
A hipertrofia não é uma qualidade física, uma capacidade ou muito menos uma habilidade, mas é sim uma adaptação morfológica do corpo ao treinamento de força e daí recaímos sobre a questão fundamental, como melhorar a hipertrofia.
Não existe uma receita de series, exercícios, repetições, velocidade, carga e intervalos para o treinamento voltado à hipertrofia. O que existe é um processo de eterna sucessão entre estímulo, adaptação, acomodação e reformulação do estímulo. Vamos explicitá-los:

Estímulo - é a forma, a metodologia utilizada no treinamento de forma a provocar alterações de ordem metabólica e mecânica no corpo alterando seu estado de homeostase.

Adaptação - é a forma como o corpo responde ao estímulo estabelecendo novos pontos de homeostase, é daí que surge a hipertrofia.

Acomodação - é o momento em que o corpo atinge uma adaptação tal que o estímulo já se torna débil e insuficiente de provocar adaptação. O indivíduo atinge uma grau elevado de adaptação que as cargas de trabalho utilizadas já não são suficientes.

Reformulação do estímulo - é o momento onde se deve ter uma estratégia de variação na carga de trabalho de forma a, novamente, gerar novos processos adaptativos e assim ser fator de estímulo ao processo de hipertrofia.

O erro mais comum é pensar no aumento da carga como meramente aumentar os "pesos" que se utiliza, mas vamos propor alguns elementos que seriam interessantes:

1- aumento do número de repetições
2- redução no intervalo de recuperação
3- aumento no número de séries
4- redução na velocidade de execução
5- combinação com outro exercício
6- execução de pré-exaustão ou pós-exaustão
7- uso de isometria (contração de pico)
8- substituição de exercício
9- aumento do intervalo e consequentemente aumento do "peso" usado
10- aumento do "peso" utilizado.

Observe que existem inúmeras outras possibilidades, mas estas podem ser utilizadas por alunos que estejam se iniciando nos treinamentos e são de fácil implementação.
A principal mudança deverá recair primeiramente sobre o aumento das repetições e em seguida o aumento do "peso" pois estes são os elementos mais básicos e fáceis para o trabalho de força e RML que recaí sobre o processo de geração da hipertrofia.
Alguns podem discordar e permanecer a utilizar os 1min para hipertrofia e 3min para força além de ficar olhando para o relógio - isso não é errado e faço isso com meus 'personais' no entando, em geral quando percebo que dá pra fazer, eu mando ver. O que estabeleço sempre é o nível de estresse que desejo no dia e isso é uma sensação não permitindo sua mensuração perfeita.
São muitas as tentativas de o fazer, tempo de recuperação do ATP, de eliminação do lactato, de recuperação da frequência cardíaca, mas cada um recai sobre a falha de desconsiderar a individualidade biológica nos permitindo apenas dados médios e, sendo assim vou propô-los:

Use intervalos de 30 a 40 segundos nos treinos de cunho mais metabólico e de 1,5 a 2min nos treinos predominantemente tensionais. Mantenha cerca de 60% dos seus treinos em torno de 40s a 1,5min e saiba que em todos os treinos a capacidade física a ser treinada é a força em seus diversos espectros exceto de resistência de longa duração.

Por Flávio França